Essa curta frase de Galileu encarna, sozinha, a entrada da ciência na era Moderna.
Ao estabelecer a matemática como fundamento da Natureza, ele se livra de toda
autoridade, quer seja intelectual, quer seja religiosa, que pudesse limitar o
desenvolvimento da ciência.
E estabelece que o cientista deve se confrontar aos fatos, à observação e à experimentação, tomando a Natureza como ponto de partida, mas para confrontar suas hipóteses com os resultados da experiência, sem tentar entender nada através de dogmas ou textos.
Galileu também nos convida a desconfiarmos de nossas percepções imediatas – cores, odores, sabores – e a nos fixarmos nas qualidades objetivas dos objetos – comprimento, largura.
Na verdade, ele tinha razão, pois os sentidos são relativos ao sujeito que percebe e não permitem a elaboração de uma objetividade propícia ao rigor científico. Somente a Razão pode ir além dessa variabilidade e construir um mundo estável, que obedeça a leis universais, fixas e necessárias, como dizia Aristóteles, cuja fórmula Galileu retoma.
“Assim, a Filosofia está escrita nesse imenso livro, sempre aberto diante dos nossos olhos. Eu me refiro ao Universo. Mas não poderemos compreendê-lo se não nos aplicarmos, antes de mais nada, a entender a língua e a conhecer os caracteres
com os quais esse livro foi escrito.
E ele foi escrito em língua matemática e seus caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem os quais é humanamente impossível entender uma única palavra. Sem eles é uma errância, é um desatino vão num labirinto obscuro.”
Marly Peres