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3 amizades

Se você fosse dizer quantos tipos de amizade existem, o que diria ?

Que tem as sinceras e as não sinceras ? Também pode ser. Mas seria simplificar um pouco. Só um pouco, pois, segundo Aristóteles, a amizade pode ser de 3 tipos, mas só 1 é autêntica.

Elas são 3 como tudo, na Grécia, se não é 3, é múltiplo de 3 – eu falo disso no seminário Bases filosóficas do Ocidente.

Antes de falar dos 3 tipos, o Mestre nos ensina que o Homem é um ser político por Natureza. Por político entenda-se social, no vocabulário atual. Porque polis, em grego, significa cidade. Ora, um ser político por Natureza é um ser que não pode viver sozinho.

Ele nos diz que além da necessidade de sermos gregários, tem o aspecto de a amizade ser um bem precioso e um estimulante para a vida feliz. E mais : que é ela que nos ensina a dar e receber, nos ensina a troca.

Por isso, a amizade verdadeira é aquela em que NÃO há nenhum tipo de interesse. Pois elas são 3 :

– a amizade com vistas ao interesse

– a amizade com vistas ao prazer

– a amizade de pessoas semelhantes e de bem – semelhantes pela virtude (areté)

Muita gente adula e manipula, para conseguir vantagens : um melhor salário, posição social (às vezes, o simples fato de poder frequentar uma classe social diferente da dela), dinheiro, reconhecimento, poder, prestígio… Ou seja, é a amizade da utilidade.

No 2º tipo, só o que se quer é passar momentos agradáveis juntos, o que acontece muito na adolescência, por exemplo.

No 3º e único tipo que vale a pena, temos a estima sincera e desinteressada. Essa é a amizade virtuosa, a amizade entre iguais, o que faz que a outra pessoa esteja lá em qualquer situação, anos e anos depois, aconteça o que acontecer.

Uma pessoa muito querida me disse que o escritor tcheco Milan Kundera, em seu último livro, “A identidade”, afirmou que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Os amigos são testemunhas do passado, são nosso espelho, é através deles que podemos nos ver melhor.  (por isso, cuidado com os novos amigos, o espelho pode rachar…)

E Kundera vai além : diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo construído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se elas enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridas numa chuva de verão.

Marly Peres