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A bíblia do Ocidente

Eu só queria dizer que o saber não foi inventado na Modernidade. Não é porque tivemos um buraco negro chamado Idade Média, em que as pessoas parece que emburreceram, que antes não houvesse muitos conhecimentos e saberes de todo tipo.

Considero a “Ilíada”, de Homero, equivalente a uma bíblia do Ocidente. Além de ser o 1º texto de uma cultura e civilização que são nosso pano de fundo, o bando de dados de nosso inconsciente coletivo. Ali ele descreve a guerra entre os homens, os valores sagrados de uma civilização, as relações humanas e, no canto XVIII, sobre o escudo de Aquiles, traça um quadro organizado e categorizado da vida em sociedade, em todas as suas facetas.

Tem mais, nesse pano de fundo. Tem a democracia, o alfabeto e a escrita, a 1ª bomba d`água, a 1ª máquina a vapor (Arquimedes), a teoria da Terra redonda, os s cartógrafos, os 1ºs mapas com latitude e longitude, Arquimedes até hoje não contestado, Ptolomeu entende que os movimentos celestes se fazem elipticamente.

Não podemos esquecer o teatro, a música, a comédia, a tragédia, nossas Musas (veja publicação, neste Blog) e, claro, os Jogos Olímpicos, que são a possibilidade de reunião em paz e não em guerra – 40 mil pessoas, naquela época.

E foram pensados como realização de ideal heroico, prova de heroísmo, realização pessoal de ultrapassamento.

As provas são a possibilidade de viver momentos de glória, típico de uma cultura que também privilegia a meritocracia e o talento, sistema que permite que todos tenham sua chance. Quem nos dera…

É algo tão emblemático que até hoje a chama olímpica que acende a tocha do Jogos, a cada 4 anos, vem da Grécia. Ela é a chama de Héstia, a Deusa da lareira e do interior, que os gregos levavam em cada missão de conquista, para com ela iluminar as novas terras com a chama sagrada da civilização.

Há quem diga que essa chama simboliza a centelha divina (veja publicação, neste Blog), um pouquinho do fogo de Zeus. Roubado por Prometeu para dar aos homens. Não importa. De toda forma, a beleza e a tradição se equiparam.

E herdamos ainda mais : como a  catapulta, as armaduras como as conhecemos, a alavanca (Arquimedes), que se transformaria em base e fundamentos da mecânica.

No rastro da requintada geometria, conjugada à álgebra, os gregos inventaram uma sofisticada máquina de sorteio, conceito posteriormente central na democracia.

Vem deles, também, a 1ª arte realista : estátuas mostrando a beleza e a anatomia do corpo, ambas herdadas depois pela Renascença.

Sem os gregos, não entenderíamos como funciona o Universo, não faríamos domos de catedrais e palácios, não teríamos tido a Revolução Industrial, nem riscaríamos os mares como riscamos.

São também responsáveis pela descoberta da acústica dos teatros, atuais estádios. E, seguramente mais importante do que todo o resto (exceção feita à Filosofia, claro) – as bases da ciência.

Outra herança importante é a legalidade : os juízes que votariam e decidiriam uma questão eram escolhidos no dia, para impedir qualquer forma de corrupção. Os romanos não adotaram esse sistema.

No legado ainda consta a arquitetura. Dela vem de lá o frontão triangular que encima as construções. O triângulo, descobriram os gregos, é a forma geométrica mais sólida que existe e por isso resiste melhor a ventanias, furacões, terremotos etc.

Idem para os arcos cruzados e as arcadas. Testemunho disso são todas as catedrais e monastérios e igrejas e abadias e………

Por fim, os atomistas, cuja teoria só pôde ser cientificamente comprovada em 2014, com o chamado “Bóson de Higgs” (Nobel de Física).

O filósofo Anaxágoras é o 1º a entender que a Lua é iluminada pelo Sol.

Vale lembrar que o centro dessa civilização brilhante é uma pequena cidade, na época. Atenas não era um grande centro, mas é ali que surge, além de todo o impalpável edifício chamado cultura e civilização, a primeira fortaleza do mundo – nenhuma cidade oriental possui uma, apesar de serem civilizações tão mais antigas.

Com uma ressalva importante : a fortaleza de Atenas é sua Acrópole, toda ela dedicada a Athena. Ali se guardava o tesouro da cidade, na casa da Deusa mais importante, o Parthenon – exemplo privilegiado, todo ele feito a partir do número áureo, outra genial descoberta grega.

São monumentos de uma beleza de cortar o fôlego, com as condições que até hoje são sinônimos de Belo : harmonia e proporção. Paris que o diga, toda ela reurbanizada pelo barão Haussmann com um imperativo central : o nº áureo.

Pena que sua religião não tenha resistido ao monoteísmo, porque seus Deuses são bem divertidos !

Marly Peres