Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) é autor do mais importante tratado de educação, o “Emílio”. Tão fantástico que Kant, sempre tão pontual, a ponto de a população da cidade na qual vivia acertar os relógios ao vê-lo passar em seus passeios diários, se atrasou uma única vez : no dia em que recebeu o “Emílio” pelo correio, pois não conseguiu parar de ler.
Diga-se de passagem, o mesmo Kant que afirmou, cheio de razão, que “o que se designa como estupidez é a carência da faculdade de julgar e para semelhante enfermidade não há remédio”.
Quanto a Rousseau, o fato de ter escrito aquela obra de educação tão fantástica não o impediu de pôr seus 5 filhos ilegítimos na chamada “roda dos enjeitados”, uma espécie de passador de pizza em portão de prédio, mas que permitia que os bebês fossem recolhidos discretamente…
Marly N Peres
Dentre outras características, Rousseau tinha mania de perseguição. Via complôs em toda parte, além de inimigos e conspirações contra ele.
Verdade que em certa ocasião a casa dele em Môtiers foi apedrejada e quando fugiu para a ilha de Saint Pierre foi expulso de lá. Por isso o filósofo David Hume (1711-1776) se ofereceu para ajudá-lo, convidando-o a passar uma temporada na Inglaterra.
O barão de Holbach logo disse a Hume que ele estava “alimentando sem saber uma víbora em seu regaço”. Quem avisa, amigo é.
Não demorou para Rousseau se indispor com o escritor Horace Walpole e, de quebra, envolver Hume na querela, acusando-o de ser o instigador dos problemas com Walpole.
O motivo foi uma brincadeira maldosa. Alguém (Hume não teve nada a ver com a história) publicou uma carta falsa onde o autor, fazendo-se passar pelo rei Frederico II da Prússia, oferecia a Rousseau sua ajuda e proteção. A sátira espicaçava Rousseau num parágrafo em que o falso Frederico II dizia :
– Já que gosta tanto de ser perseguido, comigo acertou, pois como sou rei posso providenciar todo tipo de perseguição.
Marly N Peres