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Cara-metade

“Ó pedaço de mim, ó metade exilada de mim

Leva os teus sinais, que a saudade dói como um barco

Que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais

Ó pedaço de mim, ó metade arrancada de mim

Leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto

A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu

Ó pedaço de mim, ó metade amputada de mim

Leva o que há de ti, que a saudade dói latejada

É assim como uma fisgada no membro que já perdi

Ó pedaço de mim, ó metade adorada de mim

Lava os olhos meus, que a saudade é o pior castigo

E eu não quero levar comigo a mortalha do amor, adeus.”

Chico B.

Essa letra da música “Pedaço de mim” nos fala de duas partes de alguém e muitas vezes dizemos mesmo isso : a pessoa amada é nossa cara-metade.

Essa imagem vem de um mito bolado por Platão. Sim, porque os mitos não são uma coisa que sumiu da vida cultural grega, com o surgimento da Filosofia. Não, eles continuaram a ser imaginados inclusive por filósofos, pois são uma alegoria, um jeito simbólico de falar de alguma coisa importante e universal.

Nesse mito, que Platão põe na boca de um personagem do “Banquete”, ele nos diz que nossos antepassados tinham a forma esférica, globular, com 4 pernas e 4 braços, 1 cabeça com 2 faces, 2 aparelhos genitais – enfim, um ser estranho e muito feio, redondo como os astros de quem descendiam. Esses seres primitivos eram muito fortes e queriam ser imortais, se comparando aos Deuses olímpicos.

Ou seja, pecaram por hybris, desmedida, a falta mais grave que um humano pode cometer.

Então Zeus os corta ao meio, para que eles nunca mais tentem ser iguais aos Deuses. Por isso é que até hoje se diz que procuramos nossa outra metade.

Marly Peres