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Deus está morto

“Deus está morto ! Deus permanece morto ! E fomos nós que o matamos !”  (Gott ist tot ! Gott bleibt tot ! Und wir haben ihn getötet !), diz Nietzsche na “Gaia ciência“, livro III, 108.

Com essa frase, reconhece o que a morte de Deus e, sobretudo, a morte de certos valores, representa para as considerações morais. Ele está se referindo à desvalorização de valores superiores, naquela sociedade do final do século XIX, pós Revolução Industrial.

Ou seja, trata-se de uma aguda consciência do momento presente, coisa rara. Nietzsche nos fala da ideia de progresso, uma ideia falsa, segundo ele, ilusória. A urbanização massiva, a proliferação de máquinas, a burocracia etc., que aparecem naquele momento, são celebradas pela maioria como verdadeiras maravilhas, um progresso. Mas não para Nietzsche, que antevê o niilismo e alerta contra ele.

Nietzsche costuma ser acusado por seus detratores de ser niilista, mas é justamente o contrário : ele critica e denuncia essa perda de valores.

Com palavras de uma crueza típica de seu estilo, na mesma obra pergunta : “Quem nos lavará desse sangue ? Com o que poderemos nos purificar ? Quais expiações, quais jogos sagrados seremos obrigados a inventar ? A grandeza desse ato não será demasiado grande para nós ? Não seremos forçados a nos tornarmos deuses, nem que seja simplesmente para parecermos dignos deles ?” (livro III, 125).

Assim, a fórmula consagrada – “Deus está morto” – pode ser entendida como uma constatação da descristianização, como uma constatação que a humanidade não evolui, não caminha para o melhor, para algo mais forte, mais elevado.

Prova disso, é que Nietzsche, no mesmo texto, põe essas palavras na boca de um louco. Pois o destino desse personagem é as pessoas não acreditarem nele, não o levarem a sério. Ele não cria nem propõe novos valores, mas fica frustrado por ninguém dar ouvidos a ele e sentencia : “Eu vim cedo demais. Esse acontecimento prodigioso ainda não fez seu caminho até os ouvidos humanos. O relâmpago e o trovão precisam de tempo, a luz precisa de tempo, o brilho das estrelas precisa de tempo, e mesmo as ações precisam de tempo, antes de serem vistas e ouvidas, mesmo depois de cumpridas”.

Marly Peres