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Hipácia

A 1ª pensadora que se conhece foi matemática, astrônoma e filósofa. Viveu em Alexandria. O ano era 415 e com sua morte a cidade foi declarada livre daquela “perigosa” figura.

Como foi isso, e por que ?
Ela cometeu o erro fatal de ser “pagã” e ensinar filosofia grega – uma ameaça ao cristianismo e um freio a sua difusão.

Nascida entre 350 e 370, ela era filha do matemático Teon de Alexandria. Passou os primeiros anos de sua formação em Atenas. Ao voltar para casa, tornou-se líder da escola neoplatônica.

Discutiu conceitos de aritmética, geometria e astronomia. Desenvolveu seu próprio hidrômetro e um astrolábio.

Apesar de suas relações com os cristãos da cidade serem amigáveis, o fato ela de ser neoplatônica acabou se transformando em problema, especialmente por ser muito apreciada pelos alunos. Isso irritou Cirilo, patriarca de Alexandria. Ele incitou o ódio de seus monges, que decidiram linchar Hipácia, erradicando assim o capital de simpatia que seus ensinamentos veiculavam.

Como recompensa, Cirilo foi canonizado e depois promovido a Doutor da Igreja. E isso não foi durante a Inquisição, ou na Idade Média. Não, foi em 1882, em pleno século XIX !!

No momento em que Hipácia é barbaramente assassinada, Alexandria era uma sombra de seu passado. Criada em 332 antes da nossa era por Alexandre, o Grande, ela manteve uma biblioteca onde estudaram vários dos mais importantes sábios gregos, egípcios, hebreus e sírios. Mas a partir do ano 115 da nossa era uma série de guerras e incidentes a abalou e acabou por destruí-la.

Os cristãos incendiaram a biblioteca (não deixe de ver o excelente filme Ágora, de Alejandro Amenábar). A pensadora se transformou em vítima.

O massacre revoltante provocou uma série de sequelas inesperadas e de graves consequências para a região. Além disso, com medo de serem assassinados, muitos matemáticos e filósofos fugiram dali, especialmente para a Pérsia e a Índia. Foi assim que, em pouco tempo, Alexandria deixou de ser um centro unanimemente reconhecido pelo ensino da Filosofia e da ciência.

Antes de ser morta, os monges cristãos arrancaram a pele de seu corpo com cascas de ostras. Em seguida, eles a mataram a pedradas. Finamente, depois do odioso massacre, o corpo da infeliz foi arrastado pela cidade e os cristãos arrancaram seus membros com pedaços de telhas.

Sublime Hipácia, injustamente assassinada. Mutilada de forma atroz por homens que alegavam lutar um combate divino e que tinham na verdade motivações bem obscenas.

O episódio é real, mas curiosamente pouco se fala dele. Triste de contar. Entretanto, em dias de integrismo religioso não custa lembrar o que o fanatismo é capaz de fazer. E prestar uma homenagem cheia de respeito à memória da pensadora.

Marly N Peres