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Não se entra no mesmo rio duas vezes

No famoso aforisma atribuído a Heráclito de Éfeso, ele enuncia um dos problemas
mais importantes da História do saber : se o tempo passa, como definir o movimento
que ele faz, já que o ser humano é, ele mesmo, submetido às leis da mudança ?

Para o pensador grego, toda tentativa de definição objetiva do devir parece vocacionada ao fracasso, pois se ela tem uma definição, ela mesma é submetida, ela mesma obedece às leis irreversíveis do tempo : quando eu lembro de uma situação, eu não posso fazer dela uma fotografia mental de modo idêntico, pois eu só tenho acesso a ela através da lembrança.

As nossas representações têm como viés e experiência da realidade através do tempo – o que vale no momento X não vale no minuto seguinte.

Assim como um filete de água que a gente tentaria segurar com as mãos, o devir nos empurra de maneira inexorável para frente, e a realidade que o acompanha continua sendo, em grande parte, impossível de captar.

Essa consideração, deixada de lado durante centenas de anos se transformou numa visão de tempo e de um dos conceitos fundamentais do pensamento do século XX : em Heidegger, em Bergson, mas também em Einstein. Sem falar de Deleuze.

Marly Peres