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O Espírito absoluto, ou como voltar para casa

Pisar terra firme. Voltar para casa.

Essa expressão, tão banal, tão usada sem que prestemos atenção a ela, vem na verdade de Hegel.

O pensador alemão, autor do último grande compêndio de História da Filosofia, traça todo o percurso feito pela Razão humana (o Espírito absoluto). Assim como o personagem Sheldon, da série “Big bang theory”, ele nos diz que tudo começa “Numa manhã ensolarada na Grécia …”. Ali, o primeiro momento do saber. Isso é indiscutível, ninguém contesta. Ali, nosso primeiro chão firme, nossa terra-mãe, nossa casa.

Qual a novidade com a qual Hegel nos presenteia ? É a noção de trilhar um árduo caminho e, com o cogito de Descartes (sobre isso, tem outro áudio e texto – Cogito ergo sum) encontrar um porto seguro, uma ferramenta que nos livra da incerteza : nossa humana Razão.

Hegel fala de uma circularidade que nos atravessa a todos e diz que a Modernidade precisou, num primeiro momento, renunciar à herança grega para checar, para verificar, para fazer seu próprio percurso e construir sua própria visão de mundo. E, no final, voltar para casa, pisar a firme terra da Razão grega.

“Com Descartes nós entramos numa filosofia autônoma, que sabe que vem da Razão autônoma e que a consciência de si é um momento essencial da verdade. Aqui, podemos dizer, estamos em casa. E podemos, como o navegador depois de um longo périplo pelo mar revolto, gritar ‘terra firme’”.     Hegel, G. Ph. III, 328

Na “Fenomenologia do Espírito” Hegel descreve ponto a ponto os fenômenos do saber histórico, chamados de “espírito do mundo” (Weltgeist) : depois de ter a paciência de percorrer todas as formas, na linha do tempo, e empreender o prodigioso trabalho de uma história universal, ele chega, graças a uma re-interiorização, a sua pura denominação conceitual, ciência. Sobre o tema, tem outro texto e áudio, “Psicologia“.

Marly N Peres