Em tempos de redes sociais e portais (em geral superficiais e inócuos), essa frase dita pelo filósofo no século XVI ecoa como um alerta.
Não conferir poder pode assumir vários modos de ação. Por exemplo : quando vejo num portal de internet a notícia sobre alguém que desprezo, por ser corrupto ou vulgar, ou autoritário, ou tosco, simplesmente não clico na notícia, nem por curiosidade.
Pois cada clic é sinônimo de poder conferido. Mesma coisa para a TV. Mesma coisa para publicidades. Mesma coisa para redes sociais. Os algoritmos nos controlam e, ao mesmo tempo, nossas preferências ou interesses. Quanto mais clics, mais mídia, mais patrocínio, mais divulgação, mais poder.
“Decidam-se a não mais servir e eis-vos livres.” Toda tirania, diz La Boétie, tem como base o consentimento. Quer no plano pessoal, quer no coletivo. A tirania se exerce por meio de canais recíprocos de servidão. Não à toa, o filósofo deu a seu livro o título de Discurso sobre a servidão voluntária.
O “tirano” precisa do apoio de 5 ou 6 pessoas com quem vai compartilhar seus privilégios e benefícios. Essas pessoas garantem que o chefe possa distribuir tais privilégios e benefícios. Em esquemas corrupção, por exemplo, sabemos que é assim que funciona a pirâmide. Aquelas 5 ou 6 pessoas vão se cercar de outras, e assim por diante. Essa é a cadeia de dependência. O sistema tirânico acaba ligando e corrompendo reciprocamente. O “jeitinho” brasileiro é outro exemplo disso. A distribuição de cargos em Brasília idem.
Mas o fundamental é NÃO conferir poder, não se deixar seduzir, atrair como um ímã e assim participar do famoso “efeito manada”.
Pense nisso. “Eles só parecem grandes porque estamos de joelhos.”
Marly N Peres