Bertrand Russell (1872-1970), o filósofo, lógico e matemático que recebeu o Nobel de Literatura em 1950 (quando a premiação ainda era respeitável), declarava ser inimigo das superstições e fez de tudo para combatê-las.
Russell escrevia e pensava com a clareza dos raros. Mais fascinante e necessário do que seu “História da Filosofia ocidental”, só mesmo seu brilhante “História do pensamento ocidental”.
Outra virtude dele era o humor. Apesar de ser frontalmente contra toda forma de superstição, chegou a escrever em seus “Ensaios impopulares” que em certas ocasiões elas trazem alegria. E contava alguns casos divertidos.
O preferido era sobre uma profetisa que vivia no estado de Nova York. Em 1820, ela anunciou aos seus muitos discípulos que tinha o poder de andar sobre as águas. No dia e hora marcados, os fiéis se reuniram à margem do lago. E ela se dirigiu a eles dizendo :
– Vocês estão todos plenamente convencidos de que sou capaz de caminhar sobre as águas ?
– Sim, estamos.
– Nesse caso, não é preciso que eu prove.
Marly N Peres
Alguns cristãos dizem ter certeza da ida para o céu depois que morrerem. Essa certeza deveria provocar a perda total do medo da morte. Ora, esse temor parece ser instintivo no ser humano, dizia Russell, pois somos todos imunes aos ditames da teologia.
A esse respeito, ele contava que um dia, ao perguntar a uma mulher extremamente crente qual teria sido o destino da alma da filha dela recém falecida tinha ido parar, a mulher respondeu :
– Suponho que esteja gozando da eterna bem-aventurança, mas eu prefiro não falar de coisas desagradáveis.
Marly N Peres